Reportagem do Globo revela Alcaçuz sob controle mas destaca na manchete a superlotação e falta de agentes

O Globo, edição do dia 10, noticia, como apêndice, o fim da greve das polícias, e dá destaque de capa à superlotação de Alcaçuz.
Apesar de esconder da manchete, a reportagem revela o tempo todo que o presídio está sob controle, sem fugas, sem assassinatos, sem motins.
Durante a presença da repórter do Globo o secretário de Justiça do Estado e o diretor do presídio explodiram granadas…e não houve reação dos presos.
Segundo o secretário, prova de que o ambiente está controlado.
Eis a reportagem do Globo, que tem um tom no texto e outro na manchete:

UM ANO DEPOIS, ALCAÇUZ TEM SUPERLOTAÇÃO E FALTA DE AGENTES
CADEIA DO MASSACRE DE 2017 TEM O DOBRO DE PRESOS, MAS SEM MORTES
Aura Mazda

Nísia Floresta (RN) – Um ano após o massacre que deixou 26 mortos com corpos esquartejados no presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, ainda há no local estruturas destruídas e pavilhões sem uso. Superlotada, a cadeia abriga o dobro da quantidade de presos que tinha há 12 meses: atualmente são 2.100 presidiários.

Os presos de facções rivais – Sindicato do Crime e Primeiro Comando da Capital (PCC) – que se digladiaram durante a matança de janeiro, hoje dividem as mesmas celas. De lá para cá, não houve homicídio na unidade.

Durante pouco mais de duas horas na manhã ensolarada da última segunda-feira, O GLOBO acompanhou a nova rotina de Alcaçuz.

O secretário estadual de Cidadania de Justiça (Sejuc), Luís Mauro Albuquerque, participou da visita com a equipe.

Destruído quase por completo após a rebelião de janeiro, o complexo recebeu uma obra emergencial de R$ 3 milhões, paga pelo governo estadual, para recuperação dos cinco pavilhões, incluindo a Penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga.

Os únicos reformados e que receberam presos foram os pavilhões 1 e 3 — cerca de 1.050 homens ocupam o local.

Reformado para dar melhores condições de controle aos agentes penitenciários e menor possibilidade de motins, o pavilhão 2, com capacidade para 400 presos, abriga somente os colchões novos, adquiridos no ano passado.

Não há presos nas 14 celas, com telhado e pitura novos.
Faltam agentes penitenciários: aprovados em concurso, eles esperam a formação no curso de tiro para assumir os cargos. A previsão do governo é que o pavilhão seja reativado até maio, data também apontada para que a Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária deixe o presídio.

O aparente controle retomado dentro da unidade é justificado pelo secretário como resultado do método utilizado e não baseado na quantidade de agentes penitenciários.
“Transformamos o uso da força dentro da unidade. Fomos nos especializando nessa área. Criamos uma doutrina de controle do sistema penitenciário, fui aumentando o filtro”, diz Luiz Mauro, que responde objetivamente quando é questionado sobre a superlotação dentro da unidade. “Não trabalho com lotação e sim com segurança”.
Em uma demonstração do que seria uma ação de controle em casos de motim, o secretário e o diretor de Alcaçuz, Ivo Freire, explodem duas granadas no pátio vazio do pavilhão 2. E afirmam que a falta de reação ou demonstração de surpresa por parte dos presos mostra que hoje há controle. Em outros tempos, dizem, haveria gritaria.

Túneis, falta de grades e descontrole
Há um ano, porém, o descontrole do estado sobre o que acontecia no dia a dia dentro de Alcaçuz e principalmente no interior dos pavilhões é escancarado nas deficiências estruturais, como falta total de grades, rachaduras e túneis encontrados nas celas. Todas têm algum tipo de perfuração na parede e no chão.
Sem agentes penitenciários nos locais, os presos trabalhavam dia e noite para escapar da prisão. Somente em 2016, Alcaçuz teve 91 foragidos.
Inscrições feitas com sangue nas paredes, cheiro insalubre entre celas e corredores, além de paredes cinzas ainda guardam lembranças do cenário de guerra entre duas facções criminosas rivais.
No “setor 4” ou “pavilhão 4”, a cozinha e a fábrica de bolas de futebol onde alguns presos trabalhavam têm marcas de destruição. Ainda não foram apagados pelo tempo e nem reconstruídos pelo poder público.
Em 2017, nove centros de detenção provisória foram fechados no estado. Os 900 presos que estavam nessas unidades foram diluídos no sistema, mas a maioria, cerca de 500, está em Alcaçuz.
Os sinais deixados para trás revelam não só a sede de vingança de uma facção contra outra, mas os rastros de desespero dos presos que tentaram, em vão, fugir da morte. Nas paredes do pavilhão 4, sangue humano foi usado como tinta para marcar a “morte vingada” dos presos do PCC sobre os do “RN”, facção ligada ao Comando Vermelho (CV) e Família do Norte (FDN).
“Os otario do RN perdeu”, diz uma frase ainda aparente.

No sábado dia 14 de janeiro de 2017, quando aconteceu a rebelião, seis agentes tomavam conta dos presos da Penitenciária Rogério Coutinho Madruga, ou pavilhão 5, segundo informações reveladas pela Sejuc. De acordo com relatos de fontes no sistema prisional, após “tomar” o lugar, os presos do PCC correram em direção ao pavilhão 4, empunhando armas caseiras e de fogo, quebrando uma parede para conseguir acesso. No lado oposto, os integrantes do Sindicato do Crime corriam, desesperados, dos rivais. Um portão de aço que poderia ser o livramento da morte guarda marcas de chutes e murros. Sem conseguir ultrapassar a barreira, uma parede foi quebrada.

Quem não conseguiu sobreviver teve o corpo empilhado no pátio do pavilhão 4, jogado em fossas ou enterrado. A ordem não era só de matar o “inimigo. Na guerra entre facções, os mortos foram deixados sem cabeça, braços, pernas ou tiveram o corpo completamente carbonizado.

Em 29 de janeiro, a Polícia Civil autuou 109 detentos do pavilhão 5 pelo motim, mas o inquérito foi arquivado pela Justiça meses depois.
Os cinco supostos líderes foram transferidos para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, onde permanecem até hoje.
Nas 15 celas do pavilhão 4, passagens bíblicas e crucifixos dividem espaço, lado a lado, na mesma parede, com desenhos de palhaços, símbolo que representa, na linguagem do crime, roubo e morte de policiais.
Frases “Deus é amor” e “Deus é fiel”, rabiscadas com lápis de colorir, estão ao lado de desenhos de arma de fogo.
Por toda parte, as siglas “PCC – 1533”, e “Sindicato do RN – 1314” são visualizadas. Os números são códigos que representam as iniciais das facções no alfabeto.
Gastos de R$ 6 milhões
A Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária vem sendo renovada pelo Ministério da Justiça desde janeiro. Fontes da pasta afirmam que, até o momento, a força-tarefa custou aproximadamente R$ 6 milhões ao governo federal, incluindo diárias e passagens aéreas.
Inicialmente, 78 agentes de estados diferentes participaram da ação, o número chegou a 110 e hoje são cerca de 15 homens.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Justiça não confirmou os valores e nem comentou o caso.
Secretário de Cidadania e Justiça, Luis Mauro já comandou essa força-tarefa e tem como meta criar um grupo especial para controlar a cadeia.
“O que se via aqui eram facções cobrando até pela alimentação que o estado fornecia, a realidade hoje é outra”.
Fonte: G1

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