Chuvas preocupam o Vale do Assú

As chuvas voltaram a cair com força no Rio Grande do Norte e a preocupar as cidades mais atingidas. O sofrimento na cara das pessoas mais carentes que precisam da ajuda do poder público para fugir das tragédias é visível, assim como a falta de medidas de remoção das famílias de áreas efetivamente críticas e de ação de estruturação das localidades. O bairro Maria Romana, em Ipanguaçu, é um exemplo da falta de resposta da prefeitura após as cheias dos anos de 2008 e 2009, que desabrigaram dezenas de famílias. O comerciante Lair Varela disse que já passou por oito cheias e, mesmo assim, não viu nenhum progresso no local. "Os secretários do município tiveram aqui, mas não foi feito nada", disse. O local é um misto de zona rural e urbana. A criação de porcos e outros animais e o esgoto a céu aberto jorrando ao redor das casas de taipa, construídas às margens do rio Pataxó, mostra que o bairro Maria Romana é uma área de risco às famílias que lá habitam, independente da chuva. Dona Terezinha Dantas mora com o esposo, filhas e netos numa casa de pau a pique sem piso ou qualquer saneamento. Ao seu lado, mora uma filha, casada e com três filhos na mesma situação. Dona Terezinha contou que quando o rio sobe a água passa por dentro de sua casa com pelo menos dois metros de altura. "Minha filha Anailda e eu já esperamos uma casa da prefeitura há dois anos", disse. A cada de dona Maria da Conceição, que mora em frente à dona Terezinha, já é de alvenaria, mas com apenas três cômodos para abrigar cinco crianças, fora os adultos. "Se voltar as inundações, o jeito é ir se abrigar nos colégios porque não temos condições de alugar uma casa, nem temos outro lugar para ir", lamentou a dona de casa. Ipanguaçu está rodeado e praticamente no nível dos rios Pataxó e Açu, por isso é um dos mais prejudicados. Pelo menos três bairros, próximos do centro da cidade, ficam debaixo de água. O pescador Salustrino Rodrigues, morador do bairro Frei Damião (na entrada de Ipanguaçu), acusa as grandes empresas de fruticultura instaladas na região de serem responsáveis pela ampliação das catástrofes das águas. "Aqui não tinha isso, tudo isso aumentou depois que as empresas fizeram os drenos", reclama. Seu Salustrino se refere aos drenos construídos pelas empresas para manipular as águas dos rios. Os aparatos técnicos (diques e drenos), segundo seu Salustrino e outras pessoas da comunidade, como o próprio Lair Varela, faz com que a água chegue mais rápido ao centro da cidade. "Se o rio Pataxó subir 20 centímetros, alaga o bairro Frei Damião", completou seu Salustrino. O bairro Ubarana, numas das partes baixas de Ipanguaçu, vira uma grande lagoa quando sobem as águas dos rios. A dona de casa Arlete Soares se estica toda para mostrar o local que a água passa, acima da porta da frente de sua casa. "A gente não precisa esperar que a água chegue na porta, quando o açude está perto de sangrar, todo mundo deixa suas casas", contou. Em 2009, pelo menos 1.000 famílias ficaram desabrigadas durante meses no município de Ipanguaçu. Num tempo desses é uma sorte encontrar casas para alugar no município de Alto do Rodrigues. Devido às constantes notícias de que a cheia vai se repetir, dezenas de famílias já se retiraram para evitar prejuízos. A dona de casa Maria José Gomes, moradora da rua Alice Fernandes, que não tem condições de alugar outro lugar para passar a temporada de inverno com o marido e os filhos, espera o apoio da prefeitura. "Quem tem 'condições' aluga uma casa, quem não, como eu, espera pela prefeitura", explica dona Maria, com o que lhe restou do bom humor do conformismo. Em 2009, como não deu tempo dela sair logo, perdeu quase todos os móveis. Sua vizinha, Maria de Fátima Cândido, é dona da casa onde mora, mesmo assim diz não ter dinheiro para se refugiar nas partes mais altas. "Trepamos o que dá, o que não dá, levamos na cabeça", conta. Na rua da frente, Vereador João Zacarias, a preocupação das famílias é ainda mais intensa. A casa de dona Maria das Graças da Silva fica entre as de suas filhas, todas precisam de abrigo quando as águas sobem. "Aqui só sai se for todo mundo. No último inverno fomos para a casa de um parente, mas neste ano, como ele alugou a casa, o jeito é esperar pela prefeitura", lamenta a aposentada.Tristeza mesmo é de seu Raimundo Nonato da Silva, que mudou para a rua João Zacarias, no ano passado, e agora precisa procurar outro lugar. "O pior é que nos falta condições", lamentou.

Via: Jornal de Fato

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